Vamos falar sobre Saúde Mental? Em primeiro lugar, por que é tão importante discutirmos sobre este assunto? Porque se estima que um quarto da população mundial desenvolva um ou mais transtornos mentais ao longo da vida.
Se o mês de outubro é rosa (combate ao câncer de mama) e o de novembro é azul (combate ao câncer de próstata), janeiro é branco! Apesar de pouco falado, o primeiro mês do ano é dedicado à conscientização dos cuidados com a nossa saúde mental, quebrando tabus e mostrando a importância de estar em dia com o nosso cérebro. A campanha, criada por psicólogos brasileiros, também tem como objetivo abrir novas possibilidades para tratamentos nos aspectos emocionais e mentais da nossa vida!
Criada em 2014, em Minas Gerais, a campanha conta com a participação de diversos profissionais que colaboram participando de palestras, debates e vídeos informativos sobre a importância do Janeiro Branco. A conscientização já tem grande público em São Paulo, mais de 30 cidades de Minas Gerais e países como os Estados Unidos, Japão e Portugal. A psicóloga Gabriela Bandeira esclareceu algumas dúvidas e explicou um pouco mais sobre o projeto.
O que é o Janeiro Branco?
"É uma campanha criada e promovida por psicólogos com o propósito de convidar a população a discutir a importância do cuidado com a saúde mental em busca de mais felicidade e qualidade de vida. O mês de janeiro foi escolhido, pois representa, simbólica e culturalmente, um mês de renovação de esperanças e projetos na vida das pessoas. Muitas vezes, ao fim de cada ano, fazemos avaliações de como foi o ano que passou e de como queremos que o próximo seja, e a campanha propõe o debate e o planejamento de ações em prol de sua saúde mental. Com a campanha pretende-se difundir um conceito ampliado de saúde mental e saúde emocional, como um estado de equilíbrio."
Qual a importância da conscientização?
"A conscientização se faz imprescindível uma vez que os cuidados com a saúde mental ainda são alvo de preconceito. Atualmente, vivemos em um período em que hipervalorizamos as aparências. Buscamos aparentar que estamos sempre bem, e buscar ajuda profissional poderia ser um sinal de fraqueza. Além disso, o pouco conhecimento sobre o que é e para que serve a psicologia, apenas aumenta este preconceito. Cuidar da saúde mental é autoconhecimento, é evitar doenças e criar estratégias de como lidar com as diversas situações da vida."
Cenário atual e seu impacto na saúde mental?
O mundo está vivendo em uns dos maiores impasses em toda a sua história social, política, econômica e na área da saúde. Essa nova doença deu o início de uma grande e devastadora pandemia atingindo a todos sem distinguir classe, raça e status.
Essas mudanças ocorridas na dinâmica da sociedade transformaram a vida das pessoas e isso tem causado uma série de danos sociais, econômicos, políticos, educacionais, psicológicos e físicos. O desemprego e o isolamento têm levado milhares de pessoas a desenvolverem problemas psicológicos, devido ao desamparo e a novas exigências do mercado de trabalho que muitas das pessoas não estão preparadas para enfrentar no dia a dia.
Os atritos entre os casais e a violência doméstica também aumentaram com a pandemia. Com a convivência mais intensa, muitos parceiros passaram a conhecer o companheiro mais de perto, descobrindo que não tinha afinidades em comum, e, por consequência, ocorreram inúmeros atritos que levaram a muitos divórcios.
Todos esses acontecimentos influenciam diretamente na saúde mental do indivíduo, visto que muitas pessoas nesse período de isolamento tiveram suas condições relacionadas a saúde mental mais agravadas, e até mesmo adquiriram novas questões que precisam de um tratamento adequado.
Quando devemos começar a nos preocupar e a cuidar da nossa saúde mental?
"O que levará cada pessoa a buscar ajuda profissional é muito particular, já que cada pessoa vive e interpreta experiências de modo particular. Porém, o principal sinal de alerta é quando percebemos que, por algum motivo não estamos nos sentindo bem. Muitas vezes somos consumidos por estresse, tristeza, dificuldade nas relações, desânimo; e a terapia pode ajudar a não sentir melhor e a descobrir como lidar com tais dificuldades. A terapia apenas nos enriquece como pessoa. Nos ajuda a lidar melhor com os outros, com o mundo e principalmente com nós mesmos. Aprendemos a superar nossas dificuldades, e principalmente, a identificar e aprender a lidar com nossas emoções."
Diante de dados tão alarmantes, a grande questão que nos intriga é: como cuidar da nossa Saúde Mental, ter uma vida emocional equilibrada e prevenir o aparecimento de transtornos mentais? Certamente, não são perguntas fáceis de serem respondidas. Isso porque os determinantes da Saúde Mental envolvem múltiplos fatores, tais como: características individuais (a forma como administramos nossas emoções e comportamentos, como lidamos com os desafios da vida contemporânea, como estabelecemos as relações com as outras pessoas). Mas também os fatores sociais e ambientais são muito importantes (baixa renda, desemprego, violência urbana), assim como aqueles de ordem cultural e política.
Para aquelas pessoas já acometidas por algum transtorno mental, devemos pensar que a identificação precoce desse transtorno e o manejo apropriado dessa condição pode ser fundamental para o processo de recuperação, ou seja: redução dos fatores estressores, fortalecimento do suporte social, acesso a intervenções psicossociais adequadas, incluindo psicoeducação, tratamentos psicológicos e acesso às medicações indicadas. Para tanto, é essencial a realização de campanhas para se reduzir o estigma e a discriminação em relação aos transtornos mentais. As pessoas em geral precisam compreender a verdadeira natureza do adoecimento psíquico para reduzirem o preconceito em relação a essa situação, também em relação à busca pelo tratamento mais adequado.
Para quem a campanha Janeiro Branco é direcionada?
"Para a população de um modo geral. Quanto mais pessoas tiverem conhecimento, maior será o debate e desconstrução de ideias erradas sobre terapia e cuidados com a saúde mental", finaliza a psicóloga.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- Thornicroft G, Atalay G, Alem A, Santos RA, Barley E, Drake RE et al. WPA guidance on steps, obstacles and mistakes to avoid in the implementation of community mental health care. World Psychiatry 2010; 9(2):67-77.
- World Health Organization. Depression and other common mental disorders: global health estimates. Geneva: WHO, 2017.
- Andrade LH, Wang YP, Andreoni S, Silveira CM, Alexandrino-Silva C, Siu ER et al. Mental disorders in megacities: findings from the São Paulo megacity mental health survey, Brazil. PLoS One 2012; 7(2):e31879.
- 4. Associação Brasileira de Psiquiatria. Diretrizes para um modelo de atenção integral em Saúde Mental no Brasil. Rio de Janeiro: 2014.