Tomar a decisão de recorrer a esse suporte pode ser difícil, mas o tratamento de dependência química deve ser visto como uma oportunidade de resgate.
É sobre lançar um olhar livre de preconceitos e oferecer o apoio que o dependente tanto precisa para recuperar o controle da sua vida.
Ao longo do processo, tanto o interno quanto a sua família passa por uma trajetória de enfrentamento e de redescoberta.
Não é um caminho fácil, mas ele pode ser trilhado com menos sobressaltos quanto existe suporte profissional qualificado e acolhimento.
O que é ser dependente químico?
É importante ver o dependente químico como alguém que possui uma doença crônica e ela, como qualquer outra, exige abordagem terapêutica.
A familiares, aos amigos e à sociedade cabe o papel de abandonar estigmas e incentivar o tratamento.
A definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o que é a dependência química é bastante precisa para entender o quadro.
É o estado psíquico e físico resultante da interação do indivíduo com uma substância, que se caracteriza por modificações de comportamento e outras reações, que sempre incluem o impulso de fazer uso da substância de modo periódico.
Quais são os tipos de dependência química
A dependência química pode estar relacionada ao consumo de diferentes substâncias, sejam elas lícitas ou ilícitas.
A seguir, falo sobre três delas.
Dependência química em álcool
Por ser uma droga lícita, de grande aceitação social, o álcool é amplamente consumido.
De acordo com o Ministério da Saúde, 17,9% da população adulta do Brasil faz uso abusivo de bebidas alcoólicas.
Os motivos que levam à dependência alcoólica são muitos, como a pressão social, a necessidade de aceitação, problemas familiares ou mesmo a busca por prazer.
Dependência química em cocaína
A cocaína é uma substância psicoativa, conhecida por seus efeitos estimulantes no sistema nervoso central.
Em geral, seu uso está vinculado à busca pela sensação de euforia gerada pelo consumo, além dos sentimentos de excitação, falta de apetite, insônia e onipotência.
Tudo isso, no entanto, é passageiro, o que leva à necessidade de consumir novamente, cada vez em quantidades maiores e em espaço mais curtos de tempo.
Dependência química em crack
Uma droga com alto poder de gerar dependência química, o crack oferece sensações muito parecidas com os da cocaína, já que é um derivado seu.
É comum que o abuso apareça associado ao consumo de múltiplas drogas, motivado pela curiosidade, influência do meio em que vive ou ainda por questões psicológicas e sociais de vulnerabilidade.
Como o tratamento de dependência química pode ajudar o paciente e a família?
A dependência química não afeta apenas o adicto, mas também a sua família e pessoas próximas.
A equipe se desenvolve um método de tratamento individualizado e humanizado, que tem por base protocolos com respaldo científico.
Para isso, adotamos a abordagem biopsicossocial, na qual são considerados os contextos biológico, psicológico e social do interno.
Isso significa olhar não só para as suas particularidades genéticas e bioquímicas, mas também para a sua personalidade, condições físicas, relação com familiares, nível de sociabilidade e padrão de vida, por exemplo.
O objetivo é oferecer ao paciente um estado de consciência no qual ele seja capaz de entender o problema vivenciado e, ainda, quais são as suas limitações diante da dependência.
É sobre permitir que ele não apenas deixe de beber ou usar outras drogas, mas também possa melhorar o seu funcionamento social, ocupacional e psicológico.
Essa é uma chance de reconstruir laços com a família, que precisa ser acolhida ao longo do processo.
Quais são os tipos de tratamentos disponíveis para dependentes químicos?
Quer entender melhor como é o tratamento de dependência química?
Abaixo, falo sobre as possibilidades disponíveis, que precisam ser vistas de maneira complementar.
Grupos de apoio
Uma das abordagens que utiliza nos grupos de apoio está centrados no modelo de 12 passos, que ficou mundialmente conhecido por meio de organizações como o Alcoólicos Anônimos (AA) e o Narcóticos Anônimos (NA).
A filosofia convida o paciente a um mergulho profundo de consciência, além de estimular o desenvolvimento da espiritualidade e a reprogramação de crenças, valores e responsabilidades.
A cada passo vencido, há um novo desafio a superar rumo ao controle de sua própria vida.
Psicoterapia
O método de psicoterapia que oferecemos aos nossos internos é o da Terapia Racional Emotiva (TER).
Ele permite ao paciente lidar melhor com as suas expectativas, se concentrando em alterar interpretações de suas crenças e reconhecer as mudanças que precisa realizar.
Para isso, é fundamental que uma relação de confiança seja desenvolvida, permitindo que o estilo terapêutico seja bem absorvido e aplicado não apenas durante o período de internação, mas também no pós-tratamento.
Internação voluntária
A internação voluntária é o modelo em que adicto aceita ir a uma clínica especializada e receber o tratamento necessário.
Ou seja, seu consentimento é expresso.
Internação involuntária
Nem sempre o dependente é capaz de perceber a sua realidade e reconhecer que é o momento de buscar ajudar.
A internação involuntária é, então, solicitada por terceiros quando familiares ou um responsável legal identifica a necessidade de resgate do paciente.
Em consulta com o médico, o caso vai ser narrado e o profissional vai fazer a avaliação. Após a análise do quadro, ele pode emitir um laudo com as informações necessárias para que se configure a internação involuntária.
Internação compulsória
A diferença para o modelo anterior é que, para a internação ocorrer, não é necessária a autorização familiar.
Ela é determinada pelo juiz competente após pedido formal realizado por um médico, que atesta que o indivíduo não possui domínio sobre a sua condição física e psicológica.
Entenda as 5 fases do tratamento da dependência química
A dependência química é uma doença de caráter crônico, que afeta o indivíduo em uma dimensão biopsicossocial.
O seu tratamento é complexo e envolve a superação e vivência de 5 fases diferente, como mostro a seguir:
Estágio de pré-contemplação
Aqui, o dependente químico ainda possui resistência à mudança, pois não entende os seus comportamentos e atitudes como sendo um problema relevante.
Por isso, considera a preocupação das pessoas como exagerada e está em negação do problema.
Como consequência, acredita que não existe uma motivação para a sua aceitação em mudar de atitude.
Nesta etapa, são trabalhadas a desintoxicação, a remoção de barreiras e de resistências e a síndrome de abstinência.
Por meio de informações obtidas na anamnese médica, é desenvolvido um trabalho de integração ao grupo e discussão dos conceitos de doença, perda de domínio, impotência, inabilidade, inadequação, egocentrismo e mecanismos de defesa.
Além disso, é abordado o uso de álcool e drogas, relacionando-os com os prejuízos causados.
O objetivo é gerar a motivação do dependente químico em recomeçar.
Contemplação
Na contemplação, ele começa a tomar consciência de que tem problemas com o consumo de drogas – entretanto, não se mobiliza na mudança de comportamento e atitude.
O dependente químico que está nesta fase procura de argumentos para defender seus atos, negando os obstáculos enfrentados.
Apesar de começar a acreditar em prováveis mudanças, ainda se encontra em dúvida e inseguro – sentimento que pode levá-lo a desistir da ideia de tratamento.
Neste momento, o indivíduo já começa uma relação com a instituição e o programa, considerando uma mudança e contribuição para a sua recuperação.
Ele irá entender a conexão entre seus comportamentos e problemas, além dos benefícios de parar de usar a tal substância.
Por isso, a equipe precisa tratar a ambivalência do residente, favorecendo o aumento de sua crítica e a conscientização de suas falências e prejuízos.
Tudo para que ele entenda seus pensamentos destrutivos e se engaje na mudança para vencer os sentimentos conflituosos.
Preparação
Nesta fase, os problemas e prejuízos causados pela dependência química são vistos com mais clareza, assim como a aceitação de que uma mudança de comportamento é necessária.
O indivíduo pensa em como certas atitudes podem auxiliar em sua recuperação, e começa sua preparação para dar início à mudança.
Isso acontece quando ele, efetivamente, busca a ajuda da equipe profissional e vislumbra a possibilidade de uma vida sem drogas.
Ação
Finalmente, as mudanças começam a ser postas em prática e os comportamentos problemáticos passam a ser revistos.
É uma fase que exige muita dedicação, motivação e perseverança, com resultados já mais visíveis no enfrentamento à dependência química.
É também o momento para que o interno possa se munir de ferramentas para colocar em prática a sua recuperação e buscar a ação positiva que vai elevar a sua motivação.
Desenvolver o autoconhecimento, reconhecer e confessar falhas, avaliar a vida sexual, relacionamentos afetivos, sociais e a própria relação direta com dinheiro e bens materiais são pontos fundamentais.
Espera-se que o residente evite comportamentos de risco, buscando sua autoeficácia, autorrespeito e adquira uma visão realística da mudança, corrigindo expectativas em relação à sua recuperação.
Manutenção
Este estágio é o que possui maiores desafios para o dependente químico, pois a manutenção possibilita conferir se os comportamentos e ações da fase anterior de fato levaram o indivíduo ao processo de mudança.
Exige um esforço contínuo para que não ocorram recaídas, o que impõe a necessidade de constante disciplina.
Ocorre a ressocialização, sobre a qual falo um pouco mais no próximo tópico.
Pós-tratamento da dependência química: como é feito?
A manutenção é uma fase que precisa ser zelada de maneira permanente.
Ela traz consigo o desafio de aplicar ao dia a dia todos os conceitos e avanços alcançados durante a internação.
Por isso, é importante que o paciente desenvolva habilidades que o ajudem a prevenir recaídas, o que inclui criar um planejamento para o período posterior à internação na clínica de reabilitação, com metas de curto, médio e longo prazo.
Ou seja, a preparação para o pós-tratamento é feita ainda durante o processo, quando o interno é convidado a tomar consciência da sua realidade e a aprender a lidar com os seus sentimentos e crenças.
Há uma preparação de planos de emergência que permitam lidar com perdas, desemprego e situações em que o uso de drogas se coloca como uma possibilidade.
Afinal, qual o melhor tratamento para dependentes químicos?
Os melhores e mais modernos tratamentos para a dependência química.
Nesse processo, encontra na internação realizada por meio da abordagem psicossocial uma forma humanizada de acolher o paciente e oferecer a ele um cuidado que reconhece as suas individualidades.
Não é apenas sobre eliminar o consumo, mas também sobre promover qualidade de vida e uma chance real de reinserção social.
Quais as vantagens do tratamento de dependência química em uma clínica especializada
Ao analisar as fases do tratamento de dependência química, é fácil perceber o quão complexo e cheio de desafios ele pode ser.
Superar a abstinência, por exemplo, é uma etapa que exige acompanhamento profissional, assim como todas as outras.
Ao optar por uma clínica especializada, você está oferecendo a quem ama o cuidado multidisciplinar necessário para que ele possa se recuperar com segurança e efetividade.
Além da equipe de especialistas, a estrutura disponibilizada o acompanhamento 24 horas por dia são diferenciais que precisam ser considerados.
Isso é proporcionar um acolhimento estruturado.
Dúvidas frequentes sobre tratamento de dependência química
É bastante comum que os familiares de dependentes químicos tenham inúmeras dúvidas sobre como funciona e quais as chances de sucesso do tratamento.
Se esse é o seu caso, veja respostas a algumas das questões mais frequentes.
Qual a porcentagem de recuperação de dependentes químicos?
Levantar esse número é uma tarefa difícil, especialmente porque a dependência química é uma doença crônica, na qual as recaídas podem acontecer.
Não por acaso, são escassos e pouco reveladores os estudos já feitos sobre o assunto.
No lugar de olhar para os números, o meu conselho é focar na oferta de suporte constante: primeiro, pelo acompanhamento especializado; segundo, pelo apoio oferecido diariamente por familiares no pós-tratamento.
Qual o tempo necessário para o tratamento de dependência química?
Com base identifica o período de seis meses como tempo necessário para a realização de um tratamento completo.
A dependência química tem cura?
Dependência química é uma condição crônica, que exige vigilância permanente.
O que não significa que não exista tratamento e oportunidade de retomar a própria vida, permitir que cada um dos internos possa recuperar o protagonismo da sua história.
Conclusão
Quando o assunto é o tratamento de dependência química, não existem atalhos.
Basta olhar para as fases descritas e ver como cada uma delas cumpre um papel importante, mesmo que o adicto ainda não seja capaz de identificar a necessidade de mudança.
Também acredito que o suporte profissional especializado seja um ponto fundamental para que o uso abusivo de álcool e outras drogas seja abandonado.