Conhecer os efeitos da cocaína no organismo e no comportamento de um dependente químico pode ajudar no diagnóstico mais rápido de um quadro de uso abusivo.
Por consequência, também é uma forma de dar suporte à busca por tratamento especializado por parte de amigos e familiares.
É preciso aceitar que a ameaça da droga é real. Inclusive, a cocaína é a segunda droga ilícita mais consumida no Brasil.
Segundo levantamento publicado pela Fiocruz em 2019, 3,1% da população nacional na faixa entre 12 e 65 anos já fez uso da substância.
Os números ratificam a importância de se entender mais sobre o contexto que envolve essa droga poderosa, em um viés educativo.
O objetivo deste artigo é exatamente esse: orientar amigos e familiares de dependentes químicos e, por que não, pacientes em recuperação, a identificar os principais efeitos e sintomas no organismo.
Acompanhe até o final para tirar todas as suas dúvidas a respeito.
O que é a cocaína e como ela é feita
A cocaína é uma droga ilícita semissintética, classificada como estimulante em relação aos efeitos causados no sistema nervoso central (SNC).
Ela é extraída da folha de coca, planta comum da região do Andes, sobretudo na Bolívia e no Peru.
No entanto, para potencializar seus efeitos e dar mais volume ao seu conteúdo, a substância é misturada com produtos como pó de talco, açúcar, amido de milho e outras drogas, a exemplo de anfetaminas e anestésicos.
Sua forma mais comum é o pó, mas também pode ser encontrada em cristal, por exemplo.
Quais são os três efeitos da cocaína
Normalmente inalada, a cocaína também pode ser ingerida ou esfregada nas gengivas.
Quando aspirada pelo nariz, o pó é absorvido rapidamente pela corrente sanguínea, causando efeitos imediatos, como uma grande euforia passageira, por exemplo.
Para revisitar essas sensações de prazer, o indivíduo tende a repetir o uso da substância e, por conta de uma tolerância maior do organismo, a aumentar o nível de doses, levando ao quadro de dependência química.
No caso específico da cocaína, ela desencadeia três efeitos principais:
- Efeito anestésico local: bloqueia os canais de condução do sódio às células nervosas, impedindo que o nutriente chegue até as conexões entre os neurônios
- Efeito cardiovascular: causa taquicardia, aumento da pressão arterial, arritmias e até ataques cardíacos
- Efeito sobre o sistema nervoso central: gera dores de cabeça, perdas temporárias de consciência, convulsões e pode levar à morte.
A curto prazo
Como qualquer droga, a cocaína traz sensações que, a curto prazo, remetem ao prazer, como:
- Euforia
- Exaltação de energia
- Mais autoconfiança
- Aumento do estado de alerta.
Acompanhado desses sintomas, o uso da droga também causa diminuição do apetite e sentimentos menos agradáveis, como irritabilidade, confusão mental e ansiedade.
A longo prazo
A longo prazo, o uso abusivo e constante de cocaína pode levar à dependência e, consequentemente, os efeitos à saúde e ao bem-estar do indivíduo e das pessoas que o rodeiam são drásticos.
Mais à frente, abordo com detalhes os riscos do uso contínuo da cocaína.
Como identificar um usuário de cocaína?
Para familiares e amigos que desejam ajudar quem amam a superar a dependência química em cocaína, conseguir identificar comportamentos e efeitos que a droga causa é fundamental.
Algum dos principais sintomas eu já trouxe, mas existem outros bem característicos.
Em relação às evidências físicas, destaco cinco, em especial:
- Vermelhidão acompanhada de sangramento, lesões e secreções nas narinas
- Vestígios de pó branco próximo às narinas.
- Comprometimento da capacidade olfativa, tanto para sentir quanto para diferenciar odores
- Pupilas dilatadas mesmo em lugares iluminados, acompanhadas de vermelhidão nos olhos
- Marcas na pele, como infecções, machucados e alergias próximas às veias.
Além desses sintomas físicos e alguns comportamentais, trazidos no tópico anterior, vale ficar atento a situações suspeitas, como cartões soltos e expostos sob a mesa, canetas sem carga e notas de dinheiro enroladas em forma cilíndrica.
Tudo isso na presença de vestígios de pó branco nas proximidades.
Quais são os sintomas da crise de abstinência de cocaína?
A crises de abstinência é caracterizada por uma resposta aguda do organismo à ausência ou carência da substância causadora da dependência química.
No caso da cocaína, esse quadro costuma se manifestar em três fases distintas.
Crash
É o primeiro estágio da dependência de cocaína.
Aqui, há uma diminuição acentuada do humor e da energia do adicto, com momentos de fadiga, depressão, ansiedade, paranoia e hiper sonolência.
Esses sintomas podem se estender por até quatro dias após o uso da droga e surgem logo após o pico de euforia gerado pela substância.
Outra manifestação bastante comum nessa fase é a chamada craving, uma ânsia incontrolável em consumir a droga.
O episódio também é popularmente conhecido como fissura.
Síndrome disfórica tardia
É uma fase que começa depois do crash, se iniciando entre 12 e 96 horas após o uso da cocaína e caracterizada por, sobretudo nos quatro primeiros dias, aumento da sonolência e craving muito intenso.
Passados esses primeiros dias, os episódios tendem a se intensificar e, em alguns casos, geram outros sintomas, como irritabilidade, problemas de memória, depressão e até mesmo ideação suicida.
Vale ressaltar que as manifestações, bem como as suas intensidades, variam de indivíduo para indivíduo.
Na síndrome disfórica tardia é que costumam ocorrer as recaídas, em uma tentativa de aliviar a fissura pela droga.
Extinção
Chegamos à última fase da abstinência de cocaína, onde os sintomas físicos se controlam e, de certa forma, o equilíbrio se restabelece.
É bem verdade que o desejo incontrolável de consumir a droga possa aparecer eventualmente, ainda que em uma intensidade e tendência bem menor.
Quais são os riscos do uso contínuo da cocaína?
Chegou a hora de retomar os efeitos a longo prazo que o uso contínuo e abusivo da cocaína pode trazer.
Já sabemos que a substância gera dependência, o que implica na potencialização de três fenômenos.
- Tolerância: o organismo vai se acostumando com a cocaína, então, para experimentar a mesma intensidade de efeitos que a droga ofereceu em outras oportunidades, o indivíduo precisa administrar doses cada vez maiores da substância e isso faz com que ele assuma comportamento violento, tenha tremores e apresente irritabilidade
- Sensibilização: o cérebro fica mais suscetível a sensações desagradáveis e à exacerbação da atividade motora e dos comportamentos estereotipados. Para compensar esse mal-estar, o indivíduo aumenta a dose de drogas consumidas. Esse fenômeno, normalmente, é acompanhado de paranoia e desconfiança
- Kindling: ocorrência de convulsões.
A dependência química de cocaína também leva a complicações psiquiátricas, como prejuízos da capacidade de julgamento, memória e controle do pensamento, além de manifestações psicóticas, como alucinações e delírio.
Também entram nesse quadro o estado de insônia, a ansiedade e a depressão.
Tudo isso afeta, inclusive, a vida social do indivíduo.
Essa sintomas fazem com que ele deixe de participar da vida em sociedade, adquira comportamento violento e tendências criminosas, colocando em risco a sua integridade e das pessoas ao seu redor.
Existem também diversos prejuízos físicos relacionados ao uso crônico da cocaína, principalmente na área cardiovascular, como a mudança do ritmo cardíaco.
Não estão descartados problemas respiratórios e gastrointestinais.
Dores no peito, na barriga, náuseas e dificuldades para respirar, apesar de serem menos frequentes, também são manifestações possíveis.
Boa parte dos problemas crônicos, na verdade, depende da forma de administração da droga, da frequência de uso e da quantidade ingerida a longo prazo.
Por exemplo, a cocaína em pó, quando aspirada pelo nariz, tende a trazer mais consequências ao sistema respiratório que a injetada.
Não podemos esquecer também que o uso abusivo e contínuo de cocaína pode levar à overdose, que é caracterizada pelo consumo de uma dose alta da droga, gerando falência de um ou mais órgãos.
A overdose possui duas fases: a primeira é composta por excitação, dores de cabeça, náusea, vômito e culmina em convulsões.
Já a segunda traz consequências ainda mais graves, como perda de consciência, depressão respiratória e falha cardíaca, podendo levar à morte.